quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Além da Convivência – Daniel Galera na Flim 2013

A última palestra da Flim, Festa Literária do Medianeira, foi na noite de sexta-feira, 25 de outubro de 2013. Perante um público misto, em comparação ao de bate-papos nos quais estudantes de sextos e sétimos anos compunham parte dos ouvintes, Caetano Galindo indaga ao convidado como acontece o processo de escrita, comumente associado a solidão.

A escrita é uma forma de expressão além da oralidade e da convivência, responde Daniel Galera, e enxerga uma tendência introspectiva em si mesmo, longe de ser antissocial, mas por ‘necessitar’ de tempo para dedicar-se a escrita. Antes de tornar-se ficcionista, tentou pintura, música, mas não obteve resultado, e encontrou-se na escrita, atividade que transcende a solidão, ele diz – apesar de nunca ter idealizado o ofício ou se imaginado escritor.

Caetano Galindo, o mediador, fala da acolhida de Barba Ensopada de Sangue, premiado em terceiro lugar no Jabuti 2013 na categoria romance,  e indaga Daniel Galera como é a ‘transição’ entre eremita e figura pública. Durante a divulgação de Cachalote, projeto em parceria com Rafael Coutinho, Galera teve contato com o fiel público das Histórias em Quadrinhos, até então novo para si, e foram muitos convites Brasil afora para ir a feiras de HQs. No caso do circuito literário, ele conta ser possível viver disso, de ir a todo evento em que se é chamado, tanto mediando encontros entre público e autor ou sendo convidado; em especial nos eventos cujos temas de debate são as obras dos autores, aumentando a chamada demanda por eles, como diz Galera, algo que todo autor contemporâneo deve lidar nessa euforia ‘incomum’ de eventos literários.


E como é a pressão de um livro não escrito, há uma angústia para escrever? Pergunta Galindo. Daniel responde mencionando o que David Foster Wallace chamou de criança defeituosa – pior é quando ela (o livro) não existe, o processo de escrita é considerado pelo autor melhor do que o de promoção do livro, e também o motiva a não querer sair de casa, buscando a solidão essencial para a atividade.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Retratando Marcas – Daniel Zanella e André Tezza na Flim 2013

A literatura absorve e organiza conflitos, fala Rosana Machado, mediadora de um debate entre André Tezza e Daniel Zanella, no quinto dia da Flim 2013 – Festa Literária do Medianeira. Mas que marcas são essas? , ela indaga.

Professor de Literatura na Vila Verde para adolescentes de 13-14 anos, Daniel Zanella busca inserir temas do cotidiano dos estudantes no universo literário, mapeando o que eles consideram cultura, de forma a integrá-los na leitura. Tarefa longe de ser fácil, comenta ele, pois os alunos encaminhados ao programa vêm de ambientes onde não há incentivo a prática da leitura e, em geral, marcados por violência.

A publicidade é efêmera e no dia seguinte ninguém se lembra do jingle ouvido, argumenta André Tezza, professor desta face da comunicação. Apesar desta suposta brevidade, os trabalhos do ramo expõem marcas de nossa época, no intuito de deixar visível o que não é, por vezes emprestando recursos humorísticos, cada vez mais frequentes, comenta André.

Rosana Machado lê um trecho de Dia do Degelo, crônica de Daniel Zanella, e indaga-o se nesta forma de escrita o autor é personagem. Há alguma dificuldade em separar tanto autor de personagem como o real do inventado, ele responde, devido ao impacto do texto nas pessoas próximas. Quase como nos tempos de colégio, nos quais Zanella escrevia cartas para as meninas de que gostava e apanhou do irmão de algumas; após tornar-se cronista, ao escrever sobre gente de convívio frequente e mostrar os textos, teve quem não gostou de ser ler retratado.


Respondendo a mediadora sobre a relação que estabelece com personagens e contos, André Tezza diz que depende do livro, durante a leitura ele descobre se o personagem tem a ver consigo.  Pode existir algum distanciamento ao ler a história, mas nem sempre durante a escrita, pois há indivíduos representados nas próprios personagens.